domingo, 11 de dezembro de 2011

O que é que nos afasta?


Vivemos uma época paradoxal. O ser humano é por definição uma criatura biossocial não podendo nem devendo viver isolada tendo um comportamento gregário quando mentalmente saudável. No entanto a realidade do dia-a-dia sugere o oposto, parece que em lugar de nos procurarmos tentamos afastar-nos e manter o contacto em níveis minimos e indispensáveis. Porquê? Porque razão combatemos a nossa natureza que é por definição a de viver em grupo ou comunidade? Só existe uma resposta plausível: temos medo!
Certa vez um grande homem afirmou: o ser humano é mais medroso do que mau. Todas as suas más acções ou a maioria delas se baseia no medo e na errónea necessidade de se afirmar como o mais forte. Eis o gigante que nos aprisiona e nos impede de quebrar as inúmeras barreiras que criámos para nos proteger dos outros mas quem é que nos protege de nós mesmos e das dificuldades que a vida apresenta e que só podem ser ultrapassadas em conjunto?
Reduzimos o contacto ao banal, ao profissional ou ao social raramente ao pessoal. Já não temos tempo para criar intimidade e se o temos o medo se encarrega de nos lembrar o quão crueis e mesquinhos sãos os seres humanos arquitectando a queda do outro, esquecendo-nos que somos igualmente parte desse grupo de homens e mulheres falíveis porque imperfeitos que apenas desejam ser felizes, sabem que sózinhos não podem sê-lo jamais, suspeitam que os bens materiais não são suficientes mas eis novamente o medo, do rídiculo, da dor, da miséria, da fome, do frio, da pobreza... Tudo seria vão se as pessoas se unissem e criassem laços duradouros de solidariedade mas o medo, sempre o medo, que nos magoem, nos traiam, nos enganem, nos tomem por parvos e percamos tudo o que criámos à nossa volta, castelos na areia que nada valem, pois a morte tudo leva excepto as obras e a memória.
Gostaria de poder dizer que a solução é simples e terminar com alguma receita infalível para derrubar os muros que nos separam isolando no interior de um mesmo, ensimismando-se num poço profundo de melancolia e dor mas também eu padeço da terrivel doença do medo, aplicando-se o clássico aforismo: médico cura-te. Amem muito, ofereçam a vossa ajuda, a vossa palavra ou o conforto da presença, só assim podemos vencer as pandemias de depressão, neurastia e demais desordens psicológicas que sempre acabam por somatizar-se. Falta calor, falta amor, falta humanidade, o que quer que isto signifique...